“Não me canso de dizer que tratamos mais de 520 mil pessoas, 5% da população portuguesa. Há poucos hospitais deste país com esta carga assistencial”, sublinhou o responsável no dia em que se celebrou também o 20.º aniversário da consulta multidisciplinar do pé diabético, com o lema “20 anos a caminhar sobre os dois pés”.
“Com pouco dinheiro fizemos uma clínica digna. Se já tínhamos bons resultados, depois disto podemos esperar mais e os nossos doentes vão agradecer”, disse ainda.
O CHTS, que integra os hospitais de Penafiel e Amarante, apresenta a taxa mais baixa do país de amputações em doentes com pé diabético (em 2015 o valor, por 100 mil habitantes, situava-se nos 0,9, indicador que vinha a diminuir desde 2013, quando se situava nos 2,3).
Segundo dados oficiais, a média na região Norte em 2015 era de 3,4 amputações por cada 100 mil habitantes e no país de 5,5.
Alguns dos elementos da equipa multidisciplinar da Clínica do Pé Diabético com Carlos Alberto
Durante a cerimónia, Conceição Bacelar, representante da Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN), salientou que os resultados alcançados são “uma espécie de fermento e estímulo” para outras unidades hospitalares do norte do país.
Prosseguindo, a endocrinologista, que nos últimos 20 anos tem feito assessoria ao Programa Nacional de Diabetes junto da ARSN, apelou a uma intervenção ainda mais precoce. “Gostava de ver igualmente inauguradas as consultas de pé diabético de nível 1, que são aquelas que iriam diminuir os números desta consulta”, mencionou, referindo-se aos cuidados de saúde primários.
Frisou, ainda, que os podologistas são “peças fundamentais” no tratamento do nível 1 em muitas situações de pé diabético, que podem impedir a evolução das situações para o patamar seguinte.
Rui Carvalho, Conceição Bacelar, Carlos Alberto Silva, Susana Oliveira e Maria de Jesus Dantas
Na inauguração da Clínica esteve igualmente presente o endocrinologista Rui Carvalho, coordenador do Grupo de Estudos de Pé Diabético da Sociedade Portuguesa de Diabetologia e da Consulta Multidisciplinar do Centro Hospitalar do Porto, a primeira que foi criada no país.
O especialista enalteceu todo o trabalho desenvolvido pela equipa multidisciplinar de Pé Diabético do CHTS e, em particular, da sua coordenadora, Maria Jesus Dantas. Referindo-se à clínica como “inovadora para os doentes", lamentou, contudo, não existirem mais consultas multidisciplinares de pé diabético no país.
Susana Oliveira, vice-presidente da Câmara Municipal de Penafiel, disse que ter neste centro hospitalar um “serviço inovador que permite ter a taxa mais baixa de amputações do país é um orgulho para a região”.
Carlos Alberto e Maria de Jesus Dantas
Duas décadas de um trabalho reconhecido
Na inauguração da Clínica, que começou com uma visita a uma exposição que abordou os 20 anos do grupo multidisciplinar da Diabetes, Maria de Jesus Dantas, médica responsável pela equipa multidisciplinar, fez questão de salientar que o sucesso resultou de um trabalho de muitos profissionais do centro hospitalar.
Segundo a especialista em Cirurgia Geral, num centro hospitalar que abrange mais de 500 mil habitantes como o CHTS é expectável a existência de 65 mil diabéticos, que poderão originar 5850 infeções no pé, das quais poderiam nascer mais 75 amputações/ano, 38 das quais major. No entanto, referiu, “em 2015 foram cinco os doentes que sofreram amputação major e nenhum dos amputados era proveniente da consulta”.
Em 2017, a médica venceu o Prémio Bial de Medicina Clínica, pelos resultados obtidos na consulta multidisciplinar de pé diabético na região do Tâmega e Sousa.
A Clínica de Pé Diabético, localizada no piso das consultas externas, compreende consulta médica, enfermagem, podologia, sala de tratamentos e um laboratório de suportes plantares, que foi batizado com o nome do médico Freire Soares, antigo diretor clínico do então Centro Hospitalar do Vale do Sousa e presidente da Liga de Amigos do Hospital Padre Américo.
No final da cerimónia, foram homenageados aqueles que, de algum modo, deram o seu contributo para a abertura da Clínica. Foi o caso da Liga de Amigos do Hospital Padre Américo, que ofereceu o equipamento do laboratório de suportes plantares, e o próprio presidente do Conselho de Administração, Carlos Alberto Silva.
in justews.pt